Ambiente natural


Ambiente natural e ecologia

Onde se encontram os delfinídeos? Poder-se-ia responder: em qualquer lugar! Os golfinhos têm conquistado todos os mares. Alguns têm áreas de distribuição muito reduzidas. É o caso dos Cephalorhynchus : as quatro espécies compreendidas no género habitam as águas costeiras do hemisfério sul: o Golfinho-da-Nova-Zelândia está presente junto das costas da Nova Zelândia, enquanto o Golfinho-de-Heaviside vive nas águas costeiras da Africa do Sul. As outras duas espécies habitam nas águas costeiras da América do Sul; o habitat do Golfinho-de-Dorso-Branco limita-se à costa ocidental que vai do Chile ao cabo Horn e o Golfinho-de-Commerson vive nas águas chilenas, argentinas e em volta das ilhas Falkland e Kerguelen.

Outras espécies de delfinídeos têm áreas de distribuição muito mais extensas. Muitos factores podem influenciar a distribuição da espécie: a temperatura da água, a sua profundidade, a salinidade, a topografia dos fundos e finalmente a presença de alimento.

As diferentes espécies de delfinídeos têm-se adaptado aos diversos tipos de habitat. Algumas vivem unicamente nos estuários e nos rios, como a orcela e o golfinho-do-amazonas. Outras, como os Cephalorhynchus , habitam perto das costas, enquanto os Stenella , os Lissodelphis e o Golfinho-Comum preferem o mar alto. Outras ainda, como a orca e o Roaz-Corvineiro, encontram-se tanto em águas costeiras como no mar alto.

Os cetáceos fazem grandes deslocações. Contam-se entre os animais mais móveis da Terra. Sem realizarem verdadeiras migrações, algumas espécies deslocam-se em função das estações. A temperatura externa modifica a da água, influenciando a presença de alimento: algumas espécies acompanham assim as migrações das suas presas. O golfinho-do-amazonas aproveita a estação das chuvas para penetrar na selva e nas planícies alagadas; pelo contrário, durante a estação seca, fica nos deltas.

Alguns exemplares são capazes de cobrir distâncias enormes à procura de alimento. Um golfinho movimenta-se em média a 20 km/h, mas os roazes-corvineiros podem alcançar os 44 km/h.

O factor temperatura

A migração das presas e as oscila­ções da temperatura da água não provocam apenas deslocações sazo­nais: modificam também, com o pas­sar do tempo, a distribuição de algu­mas espécies de delfinídeos. O golfinho-de-risso, por exemplo, presente em larga escala no início do século na baía de Monterey, foi desapare­cendo dessa zona com o passar dos anos, para reaparecer nos anos 70. Graças ao exame da curva da tem­peratura e da evolução da pesca nos últimos 100 anos, C. Hubbs pôde concluir que a presença dos golfi­nhos coincidia com dois períodos de aquecimento anómalo das águas dessa região. Mais recentemente, alguns roazes-corvineiros reaparece­ram no mesmo lugar. Os primeiros exemplares chegaram em 1982-­1983, simultaneamente com o efei­to de uma corrente chamada "EI Nino», que provocou um aqueci­mento considerável das águas. Pen­sa-se que estes animais seguiram as rotas migratórias das suas presas. A riqueza de peixes na baía de Monterey e as espantosas capacidades de adaptação dos roazes-corvineiros permitiram o estabelecimento na baía de uma população costeira desta espécie.


Predadores e presas

Os golfinhos são predadores que, na cadeia alimentar, se colocam nos níveis superiores. Noutras palavras, são poucos os animais que as predam para os comer, enquanto eles conso­mem enormes quantidades de peixes e de moluscos. Mas as espécies de pequenas dimensões, como os Stenella, os golfinhos-lacustres-chineses do género Sousa e até os roazes-corvineiros, podem tornar-se presas de superpredadores, como as orcas ou os tubarões. O problema é particularmente grave na África do Sul e na Austrália. V. Cockcroft estudou este fenómeno nas popula­ções de golfinhos-lacustres da costa sudeste da África do Sul. Cerca de 35% destes animais foram agredidos por tubarões, como testemunham as cicatrizes no corpo, as barbatanas dilaceradas ou ausentes...

O dar à costa e as suas causas

As causas do fenómeno de dar à costa são motivo de grande perple­xidade para os biólogos. Além disso, é muito difícil determinar a data exacta da morte de um cetáceo, por­quanto o seu corpo, mergulhado na água, pode conservar-se em bom estado durante alguns dias antes de se decompor.

Muitos exemplares encontrados na praia morreram sem dúvida no mar, tendo as correntes transporta­do a carcaça para terra. O dar à costa em massa, que pode envolver muitas dezenas de animais, é bastante fre­quente nalgumas espécies: por exemplo, os baleares, golfinhos par­ticularmente sociáveis que vivem em grupos muito C1mpactos. Se por acaso o golfinho dominante do grupo der à costa por qualquer moti­vo, é muito provável que os compa­nheiros o sigam, como aconteceu nas costas argentinas em Agosto de 1988. Nessa ocasião, 36 golfinhos de todas as idades acabaram por dar à costa sem causa aparente; pareciam estar de boa saúde, à excepção de dois exemplares, que tinham sido gravemente infestados por para­sitas.

As infestações causadas por para­sitas são, nalguns casos, responsáveis pelo fenómeno. Na Califórnia, alguns cientistas realizaram uma au­tópsia em 43 golfinhos que tinham dado à costa: 91 % apresentavam lesões cerebrais devido à presença de um parasita, o nasitrema, que se ins­tala no cérebro e no interior do ouvido. Os golfinhos atingidos têm comportamentos anómalos: perdem a capacidade de virar e de evitar os obstáculos.

Dois acontecimentos recentes provaram que as toxinas presentes em alguns microrganismos marinhos podem ser uma das causas de morta­lidade natural dos golfinhos. De Julho de 1987 a Março de 1988, 750 roazes-corvineiros morreram na costa atlântica dos Estados Unidos. O seu fígado continha brevitoxina, a toxina responsável pela “maré ver­melha” na Florida. Os golfinhos morreram depois de terem comido peixe contaminado.

As causas do dar à costa podem pois ser de vários tipos: às que já recordámos, acrescenta-se o facto de por vezes os animais serem feridos pelas hélices dos barcos (é frequen­te ver grupos mais ou menos nume­rosos de golfinhos seguir o rasto dos navios), ou ficarem presos nas redes dos pescadores. Se as infecções bac­terianas e parasitárias podem ser consideradas responsáveis pelo fenó­meno, não menos graves são as per­turbações devidas à poluição do ambiente marinho. É pois indispen­sável que em todo o Mundo sejam tomadas medidas capazes de preve­nir esses acidentes, de modo que às causas naturais não venham somar­-se as que são imputáveis ao descui­do dos homens.

Eles agradecem…