O jogo da apanhada dos Golfinho

Lustrosas como um espelho, as águas do Golfo da Califórnia mantêm-se calmas sob o ar tépido de Agosto. Durante horas, o único som que se ouviu foi o coro fúnebre de gaivotas que, à distância, voavam preguiçosamente em círculo. Entretanto, a ouvir-se, vindo do mar, um ruído semelhante ao da água corrente. À medida que o ruído se torna mais audível, a superfície da água começa a agitar-se em breve várias centenas de golfinhos passam por perto, saltando e mergulhando vigorosamente nas águas do Golfo.

As listas acastanhadas e cinzentas nos seus flancos negros identificam-nos como sendo golfinhos-comuns – mamíferos marinhos esguios e ágeis que podem atingis 2.60m de comprimento. Estes golfinhos seguem na esteira de um cardume de sardinhas.

O Golfo da Califórnia tem cerca de 1120km de comprimento, medindo em certas zonas apenas 100km de largura. Está situado entre a costa continental do México e a faixa alongada da terra, a oeste, chamada Baja Califórnia. Tanto para as sardinhas como para os golfinhos. O Golfo é o palco de uma competição eterna, com as sardinhas prateadas e os seus perseguidores de dorso lustroso cruzando as suas águas de um lado para o outro, estimulando pelo padrão sazonal ditado pelos ventos.

As sardinhas desovam junto da costa continental do Golfo no Inverno, quando os ventos afastam as águas de terra. É então que um influxo de água fria bota do fundo do mar ao longo da costa, devolvendo nutrientes á superfície e estimulando o desenvolvimento de plâncton. Isto faz com que esta época seja boa para os peixes desovarem, assegurando alimento em abundância para as crias em crescimento. Na Primavera, quando os ventos dominantes mudam e as águas aquecem, a maior parte das sardinhas adultas e jovens afastam-se da costa continental, sendo arrastadas pela corrente através do estreito Golfo.

Os golfinhos são animais ruidosos, tendo um repertório de estalidos e assobios que podem ser claramente ouvidos quando passam em grupo. Os ecos desenvolvidos ajudam-nos a localizar cardumes, bem como montanhas e desfiladeiros submarinos. No entanto, também podem navegar em silêncio, sobretudo quando o mar se apresenta transparente e a visibilidade é boa. Talvez se orientem pelo Sol quando o tempo está bom, e é provável que o campo magnético da Terra as ajude também.

Os golfinhos seguem os movimentos das sardinhas e em Agosto congregam-se no canal de Ballenas, um apertado estreito entre a Baja Califórnia e Anjel de La Guarda, numa ilha mais a norte do Golfo. Aqui, correntes fortes escavaram um canal profundo onde as águas se conservam frias durante o Verão.

Para se alimentarem, os golfinhos nadam rapidamente através de um cardume de sardinhas, ao mesmo tempo que emitem sons de alta-frequência. Pode ser que o som emitido sirva para conduzir e lançar o pânico entre os peixes, mas o que faz certamente é levá-los a juntarem-se bem uns aos outros, tal como acontece quando os golfinhos saltam na água. Quando formam uma massa compacta, os peixes são mais fáceis de apanhar. Os golfinhos capturam-nos com a sua boca em forma de bico, revestida de 180 dentes aguçados.

Nos finais de Outubro, quando o vento sopra novamente do mar, as sardinhas, os golfinhos e as baleias começam a deslocar-se para leste, de regresso á costa continental, completando assim a sua viagem anual á volta do Golfo.

Além de caçarem sardinhas á superfície, os golfinhos mergulham a profundidades próximas dos 60m durante a noite em perseguição de jovens salmões e de peixes-faróis. Há registo de um mergulho de golfinho até 258m de profundidade. Um golfinho em cativeiro detém o recorde de salto em altura com 6.60m. os golfinhos-comuns encontram-se entre os mais rápidos da sua espécie, atingindo frequentemente velocidades de 40km/m, sendo exímios na arte de nadar na crista da onda formada pela proa de navios.